segunda-feira, 20 de setembro de 2010

De coração...

...hoje eu fiquei indignada com a morte.
Hoje eu assisti mais uma vez, algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais. Faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena. Mas nada acontece alí de risível. Era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam. A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro, a morte por si só, é uma piada pronta.
Morrer é ridículo.
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro, e no meio da tarde, morre.
Como assim?? D:
E os e-mails que você ainda não abriu?
O livro que ficou pela metade?
Não sei de onde tiraram essa ideia: Morrer.
A troco de quê?
Você passou mais de 10 anos dentro de uma escola estudando fórmulas químicas que não serviram pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.
Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular, mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.
De uma hora para outra, tudo isso termina numa colisão, numa artéria entupida, num disparo feito por um deliquente que gostou do seu tênis.
Qual é? Estamos vivendo em um mundo de pessoas civilizadas ou o quê?
Nossa, a morte obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, ser ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.
Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: "Das minhas coisas cuido eu!" Que pegadinha macabra: Você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços de cigarro por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz tratamentos regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito.
Isso é pra ser levado a sério?
Tendo mais de 100 anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que não há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Cara, isso não se faz!
Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.

.Su.

3 comentários:

  1. Belo blog. :} gostei mt (y)
    estoou seguindo :}}
    vi pelo twitter, rs. :D
    boa noite :*

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  2. É Moça sua escrita a cada escrito tem se mostrado mais forte. Eu gostei muito. E é, morrer é mesmo um exagero.

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  3. Obrigada Rita!
    Volte sempre... :D

    E vc Tati, fofa como sempre...
    Obg.

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